Perda de produtividade no período menstrual: como as cólicas afetam a rotina das mulheres

Redação

Perda de produtividade no período menstrual: como as cólicas afetam a rotina das mulheres

As dores ligadas ao período menstrual têm uma estreita relação com a perda de produtividade das mulheres. Estima-se que sintomas menstruais sejam responsáveis por quase nove dias de produtividade perdida no ano, seja no trabalho ou nos estudos. Além das cólicas, outros fatores afetam a disposição e o rendimento, como fluxo de sangue muito intenso e oscilações de humor.

Por essa razão, alguns países já pensam em soluções. Japão, Taiwan, Indonésia, Coreia do Sul e Zâmbia, por exemplo, oferecem licença remunerada para mulheres no período menstrual. A Espanha, inclusive, poderá ser o primeiro país da Europa a aprovar a nova lei. Se aprovada, as mulheres poderão ter direito a três dias de folga.

Estudo aponta perda de produtividade durante período menstrual

Um estudo publicado na revista médica BMJ Journals em 2019, realizado com mulheres na faixa etária de 15 a 45 anos, na Holanda, detectou que apenas 14% das entrevistadas haviam se ausentado de compromissos durante o período menstrual, mesmo com dores. Entretanto, cerca de 81% disseram ter sido menos produtivas por consequência desses sintomas.

Os pesquisadores concluíram que, anualmente, as mulheres ficam ausentes de suas atividades 1,3 dia em decorrência do período menstrual. No entanto, a perda de produtividade é equivalente a 8,9 dias, já que elas não conseguem desempenhar suas atividades normalmente.

As discussões sobre o tema ainda são um tabu. Isso porque muitas mulheres se sentem constrangidas em revelar seus desconfortos a empregadores e coordenadores nas escolas e universidades. Assim, acabam trabalhando e frequentando aulas com dores ou, quando se ausentam, não explicitam o real motivo. O mesmo estudo apontou que apenas 20% das mulheres que estiveram ausentes do trabalho por causa de sintomas menstruais revelaram a verdadeira causa a seus empregadores.

“É necessário aumentar a discussão e a conscientização sobre o impacto dos sintomas menstruais no trabalho e as organizações devem estar abertas a isso. Para as mulheres, ainda é desconfortável falar sobre o tema. Trata-se de saúde e precisamos tornar essa discussão mais humanizada”, defende Patrick Belellis, ginecologista especialista em endometriose.

Busca por tratamento evita perda de produtividade

O fato de as mulheres se sentirem obrigadas a estarem presentes, mesmo sofrendo com as dores, pode ser ainda mais prejudicial. Isso porque contribui ainda mais com a falta de produtividade do que a ausência delas ao trabalho poderia ocasionar.

“Ter que estar presente e não abordar seus desconfortos no trabalho, escola ou universidade, também desencoraja a busca por ajuda na investigação destas dores, que podem ser consequência de problemas mais complexos. Por exemplo, a endometriose. O acompanhamento médico é fundamental para que a mulher tenha acesso ao tratamento necessário, o que pode devolver sua qualidade de vida”, acrescenta o médico.

Embora dor ou desconforto leves possam ser vistos como parte de um ciclo menstrual normal, se ocorrerem de forma mais aguda, afetando atividades cotidianas, é importante buscar ajuda médica.

“Quanto antes a mulher, em idade adulta ou adolescente, procurar um diagnóstico, mais rápido poderá ter uma rotina mais confortável. A dor moderada a grave, por si só, não significa necessariamente que ela tenha endometriose. Porém, é provável que algo possa ser feito para reduzir o impacto dessas dores sobre a sua rotina”, alerta Belellis.

O que é a endometriose

A endometriose acontece quando células do endométrio, a camada interna do útero que é expelida na menstruação, acabam se depositando fora da cavidade uterina, causando reações inflamatórias e lesões. É comum que elas se acumulem nos ovários, na cavidade abdominal, na região da bexiga, intestinos, entre outros locais, podendo até mesmo formar nódulos que afetam o funcionamento de órgãos do corpo.

Sem tratamento, a doença pode atingir formas graves, como a chamada endometriose profunda, que tem sintomas mais severos e deixam a mulher incapacitada para uma rotina normal. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, 10% a 15% de mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) têm a doença.

Fonte: Patrick Belellis, ginecologista especialista em endometriose.

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